Rodrigo Saiani
Sempre que conversamos sobre letras, fontes e tipografia, começamos por essa frase simples, mas que define como abordamos nossos projetos: fazemos tipografia pop.
Há dezesseis anos, lançamos nossa primeira fonte e entendemos que ali existia uma oportunidade de negócio que se misturava com uma atividade muito divertida. Desenhar fontes é meio como escrever livros. O tempo dedicado e a habilidade necessárias se transformam em um produto que é reflexo de todas as experiências vividas até ali e aquele resultado dura por quanto tempo os “leitores” desejarem.
Ultimamente, temos recebido chamadas de profissionais assustados com práticas de gigantes do nosso mercado que começam a conversa apresentando multas e listas de fontes fora de licenciamento, entre outras práticas. A partir do susto, inicia-se uma conversa comercial para que os infratores passem a ser clientes. Como se, de um dia para o outro, o sequestrado tivesse que se apaixonar pelo seu sequestrador, numa espécie de síndrome de Estocolmo B2B.
Imagina então que ao longo desses dezesseis anos construindo relacionamentos, trazendo leveza e informação às conversas sobre fontes – mesmo com todas as complicações de licença que são uma realidade do nosso mercado – essa abordagem nefasta chega a clientes que olham para a Plau como uma referência. Imagina receber uma mensagem perguntando se nós corroboramos com essa prática. A resposta direta e reta é NÃO.
Não é preciso muito para compreender que isso afeta em escala gigantesca o tratamento dado pelas empresas sobre o assunto. Incerteza, insegurança e medo podem até servir de motivação à ação, mas a que preço? Nesse caso, a retração, a desvalorização, a fuga para o gratuito.
Para motores corporativos que moem relações em busca de ganhos financeiros, isso pode parecer irrelevante. Mas para quem escolheu um ofício que, além do (importante) retorno financeiro, também é fonte de prazer, vínculos humanos e amizades, é muito difícil ter que entrar em conversas desagradáveis – pior ainda, desfazer nós que não fomos nós que criamos, mas eles. É ter a indesejada função de limpar a sujeira e o trauma deixados por esses verdadeiros sequestradores, dementadores da alma de um ofício tão bonito quanto antigo.
Resta a nós reforçarmos nosso compromisso irrestrito e irrevogável. As fontes que criamos a partir da colaboração com nossos clientes são CUCA-FRESCA. As licenças de uso são vitalícias, sem restrições de localização, tempo, mídia ou qualquer outra variável. A exclusividade pode ser temporária (e renovável) ou permanente, o chamado buy-out.
Quer uma dica? Da próxima vez que for comissionar ou licenciar uma fonte, fale diretamente com as pessoas criadoras. Valorizar a produção local e independente vale para praticamente tudo na vida, incluindo letras.
Como todo desenhista de letras, para nós, a palavra é tudo. E você têm a nossa: vamos seguir criando tipografia pop e construindo relações saudáveis e duradouras – aqui no nosso país e afora.
P.S.: Recebeu esse chamado desagradável? Fala com a gente, vamos desatar esses nós juntos.
Rodrigo Saiani